quinta-feira, 23 de abril de 2015

BENEFÍCIOS FUNCIONAIS DO AÇAÍ NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES.
Journal of Amazon Health Science Vol.1, n.1, p., 2015.


O AÇAÍ 
A espécie vegetal Euterpe oleracea Mart, popularmente conhecida como açaizeiro ou açaí, ocorre de forma espontânea na região amazônica, amplamente distribuída na floresta de várzea no estuário amazônico, estendendo-se ate Venezuela e Guianas. O açaí, fruto da palmeira do açaizeiro, tem recebido muita atenção nos últimos anos, devido aos benefícios a saúde associado com a alta capacidade antioxidante e composição fotoquímica4.
Souza e Bahia (2010)10, afirmam que além do fator histórico e socioeconômico, o açaí está se tornando um produto de grande visibilidade no setor nutricional devido ser fonte de diversas vitaminas, como a vitamina E e B1, assim como também em Ferro, lipídios, fibras, fósforo, minerais e  
antioxidantes, chegando a ser classificado como um dos alimentos mais ricos em vitaminas, sendo extremamente recomendável na dieta da população.
Yuyama (2011)11, concluíram que o açaí de diferentes ecossistemas amazônicos reúne características essenciais para a nutrição humana como fonte de energia, fibra alimentar, antocianinas, minerais, particularmente, cálcio e potássio, e os ácidos graxos oléico e linoléico.
Bernaud e Funchal (2011) 4, em estudos sobre atividade antioxidante do açaí afirmam que o efeito antioxidante do açaí é quase totalmente atribuído às antocianinas e que a classe destes flavonóides tornara-se destaque por seus efeitos protetores contra muitas doenças, principalmente doenças cardiovasculares e câncer. Os autores são unânimes em atribuir potencial antioxidante ao fruto do açaizeiro, da sua polpa e ao óleo extraído.
Para Nascimento (2008)12, o perfil em ácidos graxos do óleo de açaí qualifica-o como um óleo comestível especial, pois apresenta predominantemente em sua composição, ácidos graxos monoinsaturados (de até 61%) e ácidos graxos poli-insaturados (de até 10,6%), ambos recomendados para prevenção de doenças cardiovasculares.
Lima (2012)13, afirma que dieta rica em frutas como o açaí que contém elevados teores de polifenóis proporciona prevenção contra doenças, devido às propriedades antioxidantes. Por estas propriedades, nos últimos anos, o açaí tem sido utilizado no mercado nacional e internacional como alimento funcional. 
ANTOCIANINAS 
As antocianinas são os compostos hidrossolúveis que contribuem com a maior capacidade antioxidante, além de serem responsáveis pela cor vermelha escura característica da polpa do açaí. Quanto mais escuro o tom vermelho da polpa do açaí, maior será a concentração de antocianinas9.
Até o momento foram identificadas diversas propriedades farmacológicas e medicinais das antocianinas, incluindo anticarcinogênica, antiinflamatória, antimicrobiana e antioxidante, prevenindo a oxidação do LDL, doenças cardiovasculares e neurológicas. Garantem melhor circulação sanguínea e protegem o organismo contra o acúmulo de placas de gordura. As principais antocianinas encontradas na polpa do açaí são representadas pela cianidina-3-glucosídeo, cianidina-3- rutinosídeo, perlagonidina-3-glucosídeo, cianidina-3-sambiosídeo, peonidina-3-glucosídeo, peonidina-3-rutinosídeo14 -17
ÁCIDOS GRAXOS 
Os ácidos graxos são formados por cadeias de átomos de carbono que se ligam a átomos de hidrogênio com um radical ácido em uma de suas extremidades. Podem se apresentar na forma saturada (onde os carbonos apresentam ligações simples) ou não-saturada (com uma ou mais ligações duplas). No caso de apenas uma dupla ligação na cadeia, o ácido graxo é denominado monoinsaturado, no 
caso de duas ou mais ligações, chama-se poliinsaturado.
A classificação dos ácidos graxos é fundamentada em quatro aspectos: número de duplas ligações; comprimento da cadeia de carbono; configuração das duplas ligações; e posição do ácido graxo na molécula de glicerol. As variações estruturais dos ácidos graxos implicam modulações distintas da concentração plasmática do colesterol das lipoproteínas15.
Ácidos graxos saturados - A gordura saturada é a principal causa alimentar de elevação de colesterol plasmático, pois reduz os receptores celulares de apoliproteínas B-E, inibindo a remoção plasmática das partículas de LDL-c, permitindo, além disso, maior entrada de colesterol nas partículas de LDL-c. Os ácidos graxos saturados estão presentes principalmente na gordura animal e alguns alimentos vegetais13.
Ácidos graxos transisômeros — Estão presentes naturalmente em baixas quantidades em algumas carnes e laticínios gordurosos, como um resultado da fermentação bacteriana em animais ruminantes. Mas ocorrem principalmente nos alimentos industrializados, (margarinas, biscoitos, bolos, pães, pastéis, batatas chips e sorvetes cremosos). A hidrogenação dos ácidos graxos poliinsaturados é um processo que modifica a consistência do óleo, tornando-o mais "sólido". A gordura vegetal hidrogenada, rica em ácidos graxos trans, afeta os fatores de risco cardiovasculares (FR), pois provoca o aumento da colesterolemia, elevando o LDL-c e reduzindo o HDL - colesterol (HDL-c) de forma similar à das gorduras saturadas. O consumo de produtos com baixo teor de ácidos graxos trans e de gorduras saturadas promove efeitos benéficos nas concentrações séricas de colesterol18.
Ácidos graxos monoinsaturados - as gorduras monoinsaturadas são mais resistentes ao estresse oxidativo e uma dieta rica nestes ácidos graxos faz com que as partículas de LDL-c fiquem enriquecidas com eles, tornando-as menos suscetíveis à oxidação. Na substituição de gorduras saturadas por monoinsaturadas, as concentrações de colesterol total são reduzidas e as de HDL-c possivelmente aumentadas16.
Ômega-6 e ômega-3 — As gorduras poliinsaturadas subdividem-se em ácidos graxos ômega-6 e ômega-3, são mais suscetíveis à oxidação. Os AG ω-6 e ω-3 devem ser muito bem diferenciados, pois são metabolicamente diferentes e possuem funções fisiológicas opostas, deste modo o equilíbrio nutricional é importante para se conseguir a homeostasia e desenvolvimento normal do organismo. 18 Alguns estudos mostraram efeitos deletérios dos ácidos graxos poli-insaturados da série ω-6 quando consumidos em grande quantidade, como provocar diminuição do HDL e aumentar a suscetibilidade das LDL à oxidação Um balanço adequado na proporção de ω-6: ω-3 na dieta é essencial no metabolismo do organismo humano, podendo levar a prevenção de doenças cardiovasculares e crônicas degenerativas e também a uma melhor saúde mental8
FIBRAS
 
Existem dois tipos de fibras alimentares: as solúveis (pectinas, gomas, mucilagens, algumas hemiceluloses) e as insolúveis (lignina, celulose, algumas hemiceluloses). Grande parte dos benefícios diretos nas doenças cardiovasculares (DCVs) estão relacionados às fibras solúveis, como a redução nas contrações séricas da LDL-c, melhor tolerância à glicose e controle do diabetes tipo 26. Existem duas hipóteses a respeito do mecanismo de efeito redutor da concentração sanguínea de colesterol das fibras solúveis: a primeira estabelece que as fibras solúveis aumentem a excreção de ácidos biliares, fazendo com que o fígado remova colesterol do sangue para a síntese de novos ácidos e sais biliares, e a outra indica que o propionato, produto da fermentação das fibras solúveis, inibe a síntese hepática do colesterol e, embora ainda haja algumas controvérsias no mecanismo exato da síntese de ácidos biliares, triglicerídeos e LDL-c em relação às fibras, o papel preventivo de diferentes fibras na redução do colesterol plasmático vem-se confirmando cada vez mais11.
As fibras insolúveis permanecem praticamente intactas através de todo trato gastrintestinal, diminuem o tempo de trânsito no intestino, aumentam o bolo fecal e tornam as fezes mais macias, diminuindo a constipação e tendo assim efeito positivo sobre alguns males, tais como hemorróidas, varizes e diverticulite6.
As fibras alimentares também são conhecidas como coadjuvantes no controle do sobrepeso, devido à sensação de saciedade que promovem, mas o consumo de suplementos à base de fibras parece não proporcionar os mesmos benefícios que uma dieta rica neste componente pode trazer15
ATEROSCLEROSE 
A aterosclerose pode ser definida como um processo inflamatório crônico e degenerativo que acomete as grandes e médias artérias, sendo caracterizada pelo acúmulo do espaço subendotelial da íntima de lipídeos, células inflamatórias e elementos fibrosos. Os estudos desta patologia investigam a hipótese oxidativa como precursora do processo aterosclerótico. Essa hipótese afirma que a modificação oxidativa da LDL é característica fundamental para o desenvolvimento da aterosclerose16.
Assim, de acordo com essa hipótese, a LDL em seu estado nativo não apresenta propriedades aterogênicas, sendo necessária a modificação oxidativa dessa lipoproteína para que ela se torne altamente lesiva ao endotélio vascular1.
Castro (2011)1, afirma que entre os fatores de risco estão o hábito de fumar, a pressão sanguínea elevada, a obesidade, o diabetes e também as dislipidemias. Estes se associam de alguma forma, ao estilo de vida e aos hábitos alimentares e contribuem para o acúmulo de placas gordurosas na íntima das artérias, resultando na redução do fluxo sanguíneo, caracterizando, assim, o quadro patológico da aterosclerose.
Campos (2009)18 afirmam que em estudos de prevalência recentes têm demonstrado que a exposição aos fatores de risco para aterosclerose não se restringe à população adulta, contrariando desta forma, a crença generalizada de que crianças e adolescentes estão à margem deste tipo de risco à saúde. Os mesmos autores afirmam que há a existência de uma relação entre um estilo de vida fisicamente inativo e hábitos alimentares inadequados com os fatores de risco para aterosclerose, em especial para aumento do colesterol total e LDL-C.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, os fatores de risco cardiovasculares frequentemente se apresentam de forma agregada a predisposição genética e os fatores ambientais tendem a contribuir para essa combinação, em famílias com estilo de vida pouco saudável, o que reforça a importância do consumo de alimentos que apresentam compostos que contribuam para diminuição do risco de apresentar doenças cardiovasculares.
O AÇAÍ COMO ANTIOXIDANTE 
Antioxidantes são compostos que atuam inibindo e/ou diminuindo os efeitos desencadeados pelos radicais livres e compostos oxidantes. São importantes porque com o combate aos processos oxidativos tem-se menores danos ao DNA e às macromoléculas, amenizando assim os danos cumulativos que podem desencadear doenças como o câncer, cardiopatias e cataratas22.
Considerado um alimento com alto potencial antioxidante, o açaí possui em sua composição quantidade considerável de antocianinas responsáveis pela sua coloração, além de ser rico em pelo menos cinco flavonóides antioxidantes: quercetina, catequina, epicatecna, rutina e astolbina. Tais flavonóides são carreadores diretos de radicais livres, desta forma, desempenham um papel importante na prevenção de doenças cardiovasculares.
Fernando (2013)20, em uma pesquisa realizada com indivíduos com sobrepeso que ingeriram a polpa do açaí diariamente por trinta dias, detectou que o seu consumo diário promove reduções nos níveis séricos de glicose, de insulina sérica e colesterol total.
Os compostos presentes no açaí como as antocianinas, são responsáveis por reduzir a produção de espécies contendo oxigênio reativo que ajuda na normalização dos caminhos metabólicos que geram doenças como diabetes, disfunção endotelial e doenças cardiovasculares.

  REFERÊNCIAS
1. Castro CA. Lesão aterosclerótica, capacidade antioxidante e histopatologia de camundongos apoe – alimentados com açaí e submetidos ao treinamento físico. Viçosa- MG , 2011.
2. Husain S.R., Cillard J, Cillard P. Hydroxyl radical scavenging activity of flavonoids. Phytochemistry. v.26, p.2489-91, 1997.
3. Cardoso L, Leite JPV, Peluzio MCG. Efeitos biológicos das antocianinas no processo aterosclerótico. Rev. Colomb. Cienc. Quím. Farm. Vol. 40, n.11, p.116-138, 2011.
4. Bernaud RFS, Funchal C DS. Atividade antioxidante do açaí, Nutrição Brasil, 2011.
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10. Souza, JEO, Bahia, PQ. Gestão logística da cadeia de suprimentos do açaí em Belém do Pará: uma análise das práticas utilizadas na empresa Point do açaí, 2010.
11. Yuyama LKO. Caracterização físico-química do suco de açaí de Euterpe precatoria Mart. oriundo de diferentes ecossistemas amazônicos, 2011.
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Um comentário:

  1. Açaí ... uma das melhores frutas do norte,,,,sem falar nas propriedades nutricionais que essa frutinha tem,, é uma delícia, bemmmm geladinha com tapioca.....que tentaçãooo!!!

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